No último conflito USP/PM-SP
é preciso dizer, antes de tudo, que houve excesso dos dois lados. Sem dúvida a
reitoria e o governo do estado escolheram o pior caminho: o uso da força. Estudante
é bandido? A questão é mesmo a maconha? O uso de maconha por três alunos
justifica o desdobramento do evento?
A imprensa, para embalar o
seu apoio à ação policial, repetiu exaustivamente um bordão: “A universidade é
um lugar como os outros”. Será?
Vejamos.
1 - Na historia da
universidade (sua origem remonta ao início do século XIII) um ponto sempre
esteve presente: ela não é um lugar como os outros. A autonomia do trabalho
intelectual só pode acontecer na reafirmação constante do caráter específico
desta atividade. Isso sempre gerou uma relação tensa com os poderes
estabelecidos. Daí a ambigüidade da relação
sociedade/universidade. “Não se recusa o
prestígio do saber, mas os poderes estabelecidos desejam que este saber se
subordine de alguma maneira a condições externas ao seu modo específico de
disseminação” (LEOPOLDO E SILVA, Franklin. Autonomia e interação. In Revista USP. Universidade de São Paulo:
n. 25, março-maio de 1995, p. 64.
2 - Por que a ação policial se
tornou a forma natural de reagir? Por que não mais o diálogo, os debates, as
mediações? O que aconteceu com esses mecanismos tão bem usados antes? A
sociedade agora é mais violenta? Por isso precisa ser menos democrática? Não
seria exatamente o contrário?
3 – Parece haver, então, na
escolha do uso da força nas situações de conflito, um esforço pela
desinstitucionalização da universidade. Considerá-la como “um lugar como os outros” é
confundir a transitoriedade do tempo com a natureza essencial da instituição.
Se isso acontece perdem todos: o governo, a polícia, os estudantes e a
sociedade. A submissão às exigências da moral vigente, do mercado, da
tecnociência e da produtividade retira da universidade o que é a sua principal
missão: justamente questionar o imperativo dos interesses hegemônicos do seu
tempo, relativizando-os e exercitando a liberdade como critério ético.
Como ex- militante estudantil independente da Unesp; sei que muitas decisões dos Conselhos Universitários das Universidades Públicas Paulistas passam a margem de amplos debates com a Comunidade Universitária; como- segundo o DCE/USP- foi o caso deste convênio da Reitoria com a PM/SP. Por isso, o convênio x "Autonomia Universitária" é o cerne da questão! O uso de maconha, mais uma vez, foi só um bode expiatório para criminalizar e reprimir legítimas reinvindicações do Movimento Estudantil!
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