quarta-feira, 9 de novembro de 2011

A UNIVERSIDADE NÃO É UM LUGAR COMO OS OUTROS



No último conflito USP/PM-SP é preciso dizer, antes de tudo, que houve excesso dos dois lados. Sem dúvida a reitoria e o governo do estado escolheram o pior caminho: o uso da força. Estudante é bandido? A questão é mesmo a maconha? O uso de maconha por três alunos justifica o desdobramento do evento?

A imprensa, para embalar o seu apoio à ação policial, repetiu exaustivamente um bordão: “A universidade é um lugar como os outros”. Será?

Vejamos.

1 - Na historia da universidade (sua origem remonta ao início do século XIII) um ponto sempre esteve presente: ela não é um lugar como os outros. A autonomia do trabalho intelectual só pode acontecer na reafirmação constante do caráter específico desta atividade. Isso sempre gerou uma relação tensa com os poderes estabelecidos.  Daí a ambigüidade da relação sociedade/universidade.  “Não se recusa o prestígio do saber, mas os poderes estabelecidos desejam que este saber se subordine de alguma maneira a condições externas ao seu modo específico de disseminação” (LEOPOLDO E SILVA, Franklin. Autonomia e interação. In Revista USP. Universidade de São Paulo: n. 25, março-maio de 1995, p. 64.

2 - Por que a ação policial se tornou a forma natural de reagir? Por que não mais o diálogo, os debates, as mediações? O que aconteceu com esses mecanismos tão bem usados antes? A sociedade agora é mais violenta? Por isso precisa ser menos democrática? Não seria exatamente o contrário?

3 – Parece haver, então, na escolha do uso da força nas situações de conflito, um esforço pela desinstitucionalização da universidade.  Considerá-la como “um lugar como os outros” é confundir a transitoriedade do tempo com a natureza essencial da instituição. Se isso acontece perdem todos: o governo, a polícia, os estudantes e a sociedade. A submissão às exigências da moral vigente, do mercado, da tecnociência e da produtividade retira da universidade o que é a sua principal missão: justamente questionar o imperativo dos interesses hegemônicos do seu tempo, relativizando-os e exercitando a liberdade como critério ético.

Um comentário:

  1. Como ex- militante estudantil independente da Unesp; sei que muitas decisões dos Conselhos Universitários das Universidades Públicas Paulistas passam a margem de amplos debates com a Comunidade Universitária; como- segundo o DCE/USP- foi o caso deste convênio da Reitoria com a PM/SP. Por isso, o convênio x "Autonomia Universitária" é o cerne da questão! O uso de maconha, mais uma vez, foi só um bode expiatório para criminalizar e reprimir legítimas reinvindicações do Movimento Estudantil!

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