Quando
a gente vai ficando mais madura fica mais observadora. Quando se é filósofa
então, vê coisas que as outras pessoas parece não verem ou, se veem, não se
incomodam. Uma delas que me irrita bastante é o formato do telejornal de hoje.
Tenho
saudade do tempo em que o jornalismo de televisão era feito para os
telespectadores. Hoje parece bem mais com novela. Não tanto pelo apelo
emocional recorrente – os apresentadores se esforçam muito pra fingir
sentimentos de comoção e indignação que sabemos serem teatrais – mas principalmente
pela encenação teatral dos olhares entre eles. Acho que as chefias dos
telejornais dão orientações expressas para que não olhem para as câmeras, mas
sim um para o outro, já que o formato dupla está instalado.
Como
telespectadora, contribuinte e cidadã me sinto ultrajada. É como se eu
estivesse invadindo a privacidade da sala de estar do estúdio. Os âncoras “contam”
um para o outro as notícias do dia. Olhos nos olhos e, eventualmente olham para
as câmeras (quer dizer, para nós, os intrusos xeretas). Fingem espanto, fingem
humor, fingem indignação, fingem surpresa por uma notícia de que tomaram
conhecimento muito tempo antes do programa ir ao ar. É ou não é teatro?
Outro
ponto que contribui para que o telespectador se sinta subestimado é o excesso
de cortesia entre os jornalistas no ar. A nova moda agora é a do excesso de
cumprimentos e agradecimentos, seja quando chamam os repórteres externos seja
quando chamam entrevistados.
Ora,
os repórteres estão na emissora trabalhando de forma assalariada, portanto não
precisam de agradecimento pelo que fazem por ofício/obrigação. Como professora
nunca presenciei os alunos dizerem “Muito obrigado pela aula”. Já que era minha
obrigação ministrá-la.
Na
TV os convidados – autoridades, especialistas – foram contatados previamente e
aceitaram participar do programa, seja para divulgarem uma
informação/conhecimento, seja simplesmente para “aparecer”. Em qualquer dos
casos, os agradecimentos deveriam ser feitos fora do ar. Ou, no limite, apenas
por um dos apresentadores e de forma sucinta. Hoje ouvimos coisas como “Muitíssimo
obrigada pela presença e pelas informações aqui no nosso Jornal...”. Pra que
tudo isso?
Já
insisti em outro artigo sobre a responsabilidade cultural da mídia. Em nada ela
contribui para a cultura subestimando a inteligência dos
telespectadores/cidadãos quando os infantiliza.